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    VIAGENS: Rui Daniel Silva, pela Rota Vicentina

    Rui Daniel Silva, pela ROTA VICENTINA 

    rui silvaPara os amantes da natureza, escolher um só destino torna-se por vezes um processo bastante complicado e confuso.
    Há todo um mundo lá fora por descobrir.
    Perfeito seria encaixar todos os elementos bucólicos num só quadro.
    Pegar num pincel e pintar dunas entre florestas e trilhos, por rochas escarpadas ao longo de praias desertas.
    Mas há muitos anos atrás Deus quis abençoar-nos com uma imagem semelhante e decidiu plantar um pouco de tudo o que é divino e sagrado num só lugar. E esse lugar é a Costa Vicentina!
    O trilho dos pescadores começa em Porto Covo e são cerca de 75 km daí até Odeceixe.
    De mochila às costas e uma tenda, decidi fazer este trilho com dois amigos: o Jorge e a Anabela.
    13882232_10207109815639368_2983736880513939228_nMal começámos o percurso, percebemos de imediato que os quatro dias aconselháveis eram pouco tempo para tal imponência.
    A presença de uma natureza selvagem e de uma biodiversidade bem notável ao longo da costa não deixavam acelerar os nossos passos. Era impensável prosseguir e não saborear algumas imagens que eram um autêntico elixir para os nosso olhos.
    Parecia que o relógio tinha parado naquele pedacinho à beira-mar e a cada instante a paisagem mudava.
    Por vezes sentíamos que tínhamos viajado através de algum espelho mágico e estávamos num local completamente diferente.
    A cada segundo o nosso horizonte era uma incógnita e uma autêntica surpresa.
    Tanto estávamos num trilho campestre rodeado de sobreiros, como de repente no meio de uma floresta mais densa.
    Todo o percurso é feito ao longo da costa entre algumas subidas mais íngremes, mas sempre com o mar à vista.
    No seu alto, a paisagem é de cortar a respiração.
    13879426_10207109823079554_2748041614295100500_nNeste lugar tão selvagem, as constantes dunas são uma forte presença.
    Olhando à nossa volta, por vezes parecia estarmos num país completamente diferente.
    Com um calor abafado e bastante quente, não era nada fácil caminhar na areia e tudo se complicou mais quando a Anabela começou a ter dores nos pés.
    Tinha levado umas simples sapatilhas e começou a ter algumas dores, o que tornava a nossa progressão ainda mais lenta.
    Apesar de algumas partes do percurso serem bastante exigentes do ponto de vista físico, a verdadeira causa de um avanço mais vagaroso não eram as sapatilhas da Anabela, mas sim toda uma formosura esmagadora que nos rodeava, principalmente as praias.
    Algumas frequentadas pelos nativos e outras mais desertas ou de acesso difícil, a nenhuma conseguíamos ficar indiferentes.
    O som das ondas aliciava-nos. Os longos areais entre algumas rochas escarpadas com formas estranhas seduziam-nos e, sem querer, éramos arrastados como se fossemos presas fáceis.
    Praias intocadas, puras e virgens faziam-nos crer que o tempo não tinha passado por ali.
    Fazer campismo selvagem em Portugal é proibido, mas era algo que já tínhamos em mente desde o início.
    Poupar algum dinheiro e irmos em busca de alguma adrenalina e aventura.
    O Jorge, sem dúvida alguma o mais corajoso e destemido de nós os três, rompia entre arbustos e serpenteava caminhos à procura de um lugar bem escondido, quando ao terceiro dia chegámos a um alto de uma falésia.
    O lugar era simplesmente mágico, com uma vista fantástica para o Oceano Atlântico.
    Assistir ao pôr-do-sol no mar é uma experiência única. Aos poucos, o sol despedia-se de nós, avisando-nos que era hora de descansar.
    O último dia foi talvez o mais difícil. Entre algumas subidas bastante íngremes e o calor abafado, éramos compensados por toda a venustidade de uma natureza pura e selvagem.
    O desfecho desta odisseia acabou com um final feliz. No alto de uma falésia tínhamos uma vista sublime para Odeceixe. Uma imagem que deixa certamente boas mazelas a qualquer mochileiro.
    13659039_10207109775278359_1280708863230297427_nA praia está rodeada por uma ribeira que desagua no mar, onde cada um pode optar pelos banhos de mar ou de rio.
    Uma imagem perfeita, desenhada pelas mãos da mãe natureza.
    Ou melhor!
    O trilho dos pescadores transcende qualquer mestria de uma quadro de Monet ou Van Gogh.
    Num quadro apenas nos deliciamos com os nossos olhos.
    Neste pedacinho de terra à beira-mar, a Costa Vicentina completa-se ainda mais com todo o som à nossa volta.
    Uma orquestra genuína e natural formada pela natureza, onde os intérpretes são as aves, as cegonhas, o mar e o vento.
    O trilho dos pescadores é um virtuosismo bucólico de uma sinfonia acabada com as suas harmonias perfeitas, onde cada viajante também participa nesta obra-prima.
    Marcamos o ritmo com os nossos passos, e as pausas são o silêncio de toda a contemplação e encantamento deste pequeno paraíso à beira-mar.

    Rui Daniel Silva