JERUSALÉM, A CIDADE SAGRADA – Rui Daniel Silva
Na cidade do Cairo, apanhámos um autocarro com destino à cidade de Taba, perto da fronteira com Israel.
Atravessar o deserto do Sinai foi indubitavelmente uma viagem inesquecível.
Uma beleza simples num tom amarelado do seu deserto que parecia não ter fim, acompanhada por vezes por estranhas rochas gigantes ao longo do caminho.
A certa altura, o autocarro parou numa aldeia para que quem quisesse, pudesse comer algo ou tomar chá.
Em pleno deserto no meio do nada, o calor que se fazia sentir era intragável.
Nunca tinha sentido tanto calor na minha vida. Fugi para a primeira sombra que encontrei, mas nunca pensei que esta andasse de mão dada com o sol. A própria sombra era insuportável.
Entrámos num café e os nativos ficaram pasmados a olhar para nós.
Certamente não é muito comum verem turistas por aquelas bandas.
Gastámos o pouco dinheiro que tínhamos em água e bolachas.
De novo no autocarro, seguimos viagem até chegar a Taba, cidade que fica a 2 km da fronteira.
Havia táxis, mas como já não tínhamos dinheiro fizemos todo esse percurso a pé.
Quando chegámos à fronteira, o polícia só falava egípcio.
Entregámos os nossos passaportes e ele começou a implicar com algo.
Como ninguém falava a mesma língua, chegou uma certa altura que parecia que estávamos a jogar Pictionary. Muitos gestos e mímica onde não havia qualquer entendimento de ambas as partes.
Finalmente apareceu um guia que falava inglês e explicou que a data de entrada do nosso visto no país não estava bem clara.
Problema resolvido, surgiu outro dilema.
Para sair do país teríamos de pagar 20 cêntimos cada um, o que na realidade não é nenhuma fortuna.
Como tínhamos gasto tudo em água e bolachas, não tínhamos nem um cêntimo.
Brincando e rindo, por vezes com algumas incongruências espalhadas pelo mundo por parte dos nativos, há momentos em que nós próprios temos atitudes absurdas para nos safarmos.
Virou-se o feitiço contra o feiticeiro e tentei vender o pacote de bolachas ao guia por 40 cêntimos para podermos sair do país.
O guia ficou pasmado a olhar para mim, mas foi bastante amável.
Pagou-nos a saída sem querer nada em troca.
Já em solo israelita, os problemas pareciam não ter fim.
O efeito boomerang de dilemas e pequenas confusões perseguia-nos como a nossa própria sombra.
Fomos interpelados pelas autoridades sobre o porquê de visitar Israel.
Logo de seguida implicaram com o passaporte da Patrícia.
Achavam que o passaporte era falso e olhavam desconfiados para a fotografia.
Pediram-lhe o telemóvel e tiraram-lhe as impressões digitais.
Um enredo frenético que se tornou quase numa epopeia, só para entrar em solo israelita.
Com todos estes imprevistos, perdemos o autocarro para Jerusalém e tivemos de improvisar.
Apanhámos um autocarro para Tel Aviv e daí seguimos noutro transporte público até à cidade de Jerusalém.
No dia seguinte acordámos bastante cedo para explorar a cidade antiga de Jerusalém, que se encontra dentro de uma muralha.
Parecia que tínhamos feito uma viagem ao passado. Labirintos de ruelas afuniladas, onde constantemente nos perdíamos no meio dos nativos.
Respira-se um certo misticismo nesta cidade, onde as três grandes religiões abraâmicas estão presentes.
No quarteirão muçulmano podemos encontrar o venusto Domo da Rocha, um dos ícones mais sagrados do Islão.
A sua vistosa cúpula dourada é um dos pontos mais emblemáticos da cidade.
O quarteirão cristão tem mais de quarenta igrejas. O seu apogeu é, sem dúvida, a Basílica do Santo Sepulcro, lugar no qual Jesus foi crucificado e enterrado depois da sua caminhada final pela via dolorosa.
Fizemos este percurso, também conhecido por via sacra, e sem dúvida que se sente uma atmosfera sagrada.
Na parte judaica podemos encontrar o famoso Muro das Lamentações, local onde os seus devotos oram e colocam um papel com os seus desejos escritos.
O muro está dividido em duas partes, a dos homens e a das mulheres.
Engraçado ou não, reparei que as mulheres após orarem e colocarem o tal papel no muro, regressavam de costas.
Não fugindo a este célebre ritual de colocar um papel com um desejo, decidimos fazer o mesmo.
Aproximei-me e espalhei imediatamente o pânico. Ao colocar o meu papel, fiz com que uma carrada de papéis caísse ao chão.
Apanhei imediatamente os papéis e tornei a colocá-los no muro. Ficou toda a gente a olhar para mim e eu pensei para os meus botões: “ Lá se foram alguns desejos à vida graças a um intruso luso. “
Rui Daniel Silva