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    VIAGENS: Bali de Scooter

    – Rui Daniel Silva faz BALI DE SCOOTER

    Quando ela passa fico deslumbrado e embevecido. Aquela silhueta fascina-me. Aquele corpo e aquelas curvas deixam-me extasiado e louco. Mas por vezes galga tão rápido que mal a vejo passar e só penso: “ Eu também quero uma mota! “ E naquele dia não tinha apenas uma mota ou uma scooter à minha frente. Estava na ilha de Bali e em cada viela ou beco, choviam scooters a cântaros. Era simplesmente inacreditável. Porém, perante tal pandemónio, convenci as minhas três companheiras de viagem a alugarmos uma scooter. Um euro e sessenta, era quanto ficava o aluguer por dia a cada um. Mas vamos ao que interessa.

    Como é realmente andar de mota ou de scooter na ilha de Bali?

    bali2Os primeiros adjetivos que me ocorrem são o descabido e o inconcebível. Sair da cidade de Kuta foi quase uma missão impossível. Em primeiro lugar, conduz-se pela esquerda, mas este não foi realmente o verdadeiro quebra-cabeças. O trânsito era uma autêntica confusão e a confusão era o trânsito. Uma epidemia de scooters vindas não sei de onde, entupiam o tráfego ao som das constantes buzinas, que eram usadas somente por duas razões. Por tudo e por nada. Para complicar, alguns condutores não ajudavam nada, pregando-nos algumas rasteiras de mau gosto. Ultrapassavam em tudo o que era sítio e depois havia aqueles, que eu os identifico como os verdadeiros pilotos inconscientes e amantes do perigo, que vinham em sentido contrário.

    Alguns velocípedes transportavam quatro ou cinco passageiros. E não eram magros nem franzinos. Eram pessoas normais como eu. Todos na mesma scooter. Também se viam imensas crianças já a conduzir. A verdade é que durante quase uma semana, não vimos nenhum acidente rodoviário. Resumindo e concluindo, uns autênticos sedutores, estes meninos na arte de manejar o guiador. Faziam aquilo com uma perna às costas, enquanto que nós nos víamos à rasca com as duas pernas no velocípede. Mas como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança, e assim foi.

    bali3Passado algum tempo, os nossos corações que tinham sofrido uma certa taquicardia perante tal caos e adrenalina, voltavam a um ritmo normal. Respirávamos de alívio e tínhamos uma ilha por descobrir e explorar com toda a calma e serenidade. Se tínhamos passado neste teste sem cábulas, a partir de agora seria tudo mais fácil. Assim como Fernão de Magalhães, deixámo-nos levar ao sabor da brisa. As paisagens eram magníficas. Arrozais e palmeiras davam-nos boleia ao longo de todo este percurso bucólico em tom esverdeado. Mas o mais impressionante era a quantidade absurda de templos ao longo do caminho. Sem qualquer exagero, viam-se mais templos do que casas.

    A primeira paragem foi para visitar um dos templos Hindus mais famosos desta ilha, o Pura Tanah Lot. Este soberbo templo fica sobre um grande rochedo no meio do mar e é de uma beleza rara. É, sem dúvida, o lugar ideal para se fugir da grande azáfama das cidades e se poder respirar alguma calma.

    bali1Depois de almoço seguimos viagem e as primeiras gotas de chuva obrigaram-nos a arranjar um abrigo. Sem qualquer destino eminente, apenas rumávamos para norte. Cada metro e cada curva eram um brinde inopinado que aceitávamos de bom agrado. E sem dúvida que este é um dos grandes benefícios quando fazemos uma viagem por nossa conta. Temos toda a liberdade para rumarmos ao sabor do momento. Paramos quando queremos e visitamos o que queremos. Com um calor infernal, a deslocação em duas rodas é, indubitavelmente, uma das melhores sensações que podemos ter. Um vento suave e fresco facilitava-nos a locomoção.

    Em contrapartida, também acabámos por sentir o oposto passadas algumas horas. Curvas contra curvas e uma estrada que não parava de subir, o calor abafado que tínhamos sentido ao longo do dia transformava-se aos poucos num frio indesejado. Por isso mesmo, decidimos parar na primeira povoação que encontrámos, a cidade de Bedugul.

    Apesar de Bali ser maioritariamente uma ilha hindu, aqui ouvíamos as famosas rezas muçulmanas, que se estendiam por toda a cidade, através dos altifalantes das mesquitas. Pousada encontrada, era hora de dar um certo descanso ao nosso querido veículo de duas rodas e continuar esta aventura no dia seguinte.